quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Feliz dia do mestre

A velha professora nunca teve filhos. Seus irmãos já morreram. É viúva há muitos anos.
Teve enteados, que lhe deram netos, bisnetos, uma infinidade de crianças que a chamam de vovó mas que não têm seu sangue. Seus únicos herdeiros de fato são os que ela mesma escolheu entre seus alunos.
Boa atriz, a professora parece alegre. Parece satisfeita, feliz. Será mesmo? Ainda tem colegas, alunos, secretárias... Mas há tanta solidão em seus olhos. Alguma dor. Arrependimentos, talvez? 
De vez em quando alguém se aproxima. Surge em sua vida como o filho que não teve, o neto que perdeu. Busca apoio em suas mãos já tão frágeis, passeia com ela pelos palcos em que é homenageada. E mostra o rosto e as intenções sempre tarde demais. Deve doer na velha professora, cada engano, cada ilusão, cada máscara. Mas de máscaras ela também entende, de fingimentos e fingidores, e vai seguindo em frente, fingindo a incomparável satisfação de ser reconhecida, respeitada, citada, ... Será o bastante?
Seria o bastante para alguém?

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