sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

"E quem tem tempo para postar?", ou "Sim, Rafael, essa é uma carta aberta pra você."







Rafael, meu querido e quase único leitor, canalha favorito, etc., em resposta aos seus comentários sobre a quantidade de dias que fico sem postar neste blog, apresento agora um breve relato dos eventos da semana. Como poderá ver, no tempo em que eu dava aulas e escrevia tese eu tinha muito mais tempo livre nas mãos.



Como você bem sabe, estou fazendo um curso de fotografia. Foi aí que tudo começou, naquele bem sabido momento em que alguém mais entediado e sem vontade de ir pra casa lança a proposta: vamos tomar alguma coisa? Ao que eventualmente todos sucumbem e quando se dão conta lá vamos nós atravessando o centro da cidade em busca, é claro, do Vermelhinho. Eu sei, você não é um fã, mas o que seria do vermelho se todos gostassem do amarelo ou das devassas?



Anyway, papo vai, copo vem, 37 saideiras mais tarde e um bêbado solitário se aproxima de nossa mesa revoltado porque ouviu alguém dizer que entrou para a faculdade aos 17 anos. Bêbado solitário se declara médico, insiste que é impossível entrar na faculdade antes dos 18 (apesar do testemunho pessoal de seis dos comensais), e por fim declara ter 49 anos, apesar do look 68 que ostenta. Lamentamos a má sorte do pobre senhor, pagamos a conta, mais uma saideira, alguns se despedem, outros perguntam: e agora, pra onde?



Resposta: Irish Pub, ali na General Osório, único aberto na região, para o estranhamento de todos. Enfim, Guinness, saideira, saideira, bar fechando. Ouço a pergunta de novo: e agora, pra onde?



Andamos então por Ipanema, em busca de algum lugar ainda aberto. Encontramos, claro, mas não sem antes encontrar duas gaúchas perdidas em sua última noite no Rio. Estavam hospedadas na casa de uma prima que foi dormir e trancou a porta. Levamos conosco. Mais copos, mais saideiras, uma das gaúchas decidiu que precisava de agito na última noite carioca, para desespero da outra que já não aguentava mais o excesso de entusiasmo da amiga. Doida para arranjar um problema, a moça começa a perguntar para os passantes: guri, onde é a boa? Finalmente ouve uma resposta: Baronetti! Sério. E lá foram as gaúchas, com a nossa benção e um número de celular para ligar em caso de encrenca. Claro que ninguém ia lá buscá-las, mas enfim...



Mais um bar fechado, mais uma vez: e agora, pra onde? Passamos no Zona Sul 24 horas, compramos uma cerveja pra cada, e rumo ao Arpoador. Subimos na pedra, arranjamos um lugar confortável, um de nós começou a roncar enquanto os outros riam, tiravam fotos e jogavam conversa fora. O sol nasceu. Tentamos, com algum esforço, acordar o companheiro adormecido. A companheira que até então já havia curtido metade da aventura de salto alto e a outra metade descalça decide que é hora de procurar uma banca de jornal que venda Havaianas. Acabou comprando um Ipanema rosa chiclete.



Seguimos andando por Copacabana até que cheguei em casa e os colegas da noite seguiram rumo ao metrô. Cheguei em casa às 9:00, tomei um banho gelado e dormi até às 16:00.



Tão longo post para tão longa noite, outra hora eu te conto a história das fotos aí de cima. Só para você ver que às vezes a gente também trabalha.



E a sua semana, como foi? Digitou muita coisa para a Laura?



terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Happy Birthday, Lisa





Tudo que escrevo, seja neste blog ou em meus e-mails, tweets, cartas, artigos, poemas, textos avulsos, teses, livros, etc., pode receber o selo "made on a mac".



Desde o meu primeiro IPod (shuffle branco de apenas 256 de espaço, imagine), minha relação com a Apple tem sido sempre uma linda história de amor. Quando consegui comprar meu primeiro macbook (o que ainda estou usando, neste momento e há 5 anos), ele era uma máquina super avançada, moderna, extremamente funcional e muito, muito cara. Hoje, ele já não é tão caro ou avançado, mas permanece moderno, funcional, livre de vírus, bugs, travamentos, e, claro, acima de tudo, ele continua lindo.



O que quase ninguém te conta quando você compra um mac é que, uma vez que aquela maçãzinha mordida chega na sua casa, não há retorno possível. Você é que acaba mordido e devorado por aquela serpente Steve Jobs, convertido a uma seita que crê ter voltado ao paraíso. Talvez seja ilusão causada pelo bom gosto de seu design. Talvez seja a mensagem codificada pelas piscadelas imperceptíveis daquela maçã brilhante. Talvez seja a sensação de estar do lado do bem, contra as forças das trevas do ladrão de idéias Bill Gates.



Não importa nada, e menos ainda o que dizem os detratores, os invejosos, e as raposas de uvas (ou maçãs) verdes. O orgulho de ser uma pessoa mac é tão resistente quanto esse meu macbook velho de guerra, companheiro de aventuras, viagens, música e fotografias, co-autor dos meus livros, corsário de séries e filmes, que só descansa poucas horas por semana, sem reclamar de nada.



À sua tataravó Lisa, lançada nesta data querida há 27 anos, os merecidos parabéns.



quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Ano novo, velhas fotos





O casamento de Íris foi no dia de seu aniversário de 18 anos.



Seu marido tinha para ela um apelido divertido: Doquira, o nome de uma gata de estimação que ela tinha quando se conheceram (e que um dia achou por bem escolher como maternidade para a sua cria o berço do primeiro filho do casal).



O casal era muito pobre, e só com muito trabalho e muita dificuldade foi capaz de criar os seis filhos que tiveram. Mas sempre estiveram prontos a receber todos os sobrinhos, afilhados, agregados, enfim, qualquer um que batesse à sua porta precisando de qualquer coisa. Foram tempos difíceis, de muita necessidade, muito esforço e nenhum conforto. Mas eles passaram.



Hoje, Íris tem 80 anos. É, portanto, casada há 62. E o marido ainda a chama, sempre, de Doquira. Nunca ouvi meu avô chamando minha avó por qualquer outro nome.



No último 27 de dezembro, minha avó reuniu mais de uma centena de parentes e amigos para celebrar seus aniversários, de nascimento e casamento, numa festa que, naturalmente, foi fotografada por mim. E como a Doquira é fogo, a gente dá a mão e ela já quer o braço, recebi em anexo a hercúlea tarefa de restaurar a foto original, do casamento de meus avós, para acrescentar ao álbum da festa.



Foi assim que o retrato que eu nunca havia visto fora da parede do quarto de meus avós veio parar na minha casa e, agora, neste blog. E para quem não os conhece, vai também a fotografia atual. E, quem sabe um dia, eu tomo coragem de contar melhor a história de como as pessoas da foto lá de cima se transformaram nas pessoas da foto aí embaixo.



segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

As trilhas de Ilha Grande

As trilhas de Ilha Grande conduzem a praias paradisíacas. Você anda por dentro do mato, sobe e desce as inclinações das pedras, e de repente, do meio do silêncio, surge aquele barulhinho de mar te chamando. Quando bate o cansaço e você não aguenta mais dar um passo, ele surge, imenso, à sua frente. Fresco, manso, cristalino. A cada trilha, a cada hora de caminhada, maior o prêmio, maior o mar, mais deserto, mais gostoso.



Não me lembro bem, porque já faz muito tempo que não vou à Ilha, mas creio que sejam três os trechos de trilha que separam a praia do Bananal do "centro". Creio que sim, que aquele pedaço de paraíso estava três degraus acima do paraíso inicial que é Abraão.



Só estive lá uma vez. Nunca esqueci. Bonito é pouco. Paraíso mesmo. Ao cubo.



Quem morre no paraíso já está no lugar certo, não é? Ainda mais depois de festa. Depois de um mergulho no mar.



Nenhuma daquelas pessoas estava esperando a morte. Ninguém previa tragédia alguma, só alegria, felicidade, um novo começo. Paz.



Deitaram para dormir, exaustos e salgados de mar, vestidos de branco e em harmonia com o mundo, prontos para sonhar um ano novo de conquistas e vitórias. Em paz estavam e em paz permaneceram, cobertos pela terra que pisamos nas trilhas de Ilha Grande, cercados pelo barulho do mar que chama, cristalizados no tempo, bonitos-jovens-alegres, em paz de criança dormindo. E terão, como todos teremos, um novo começo.