segunda-feira, 28 de setembro de 2009

É preciso ter raça

Meu amigo Rafael Cesar anda movimentando seu blog com uma boa discussão sobre preconceito, racismo, etc. Tudo pela percepção (que de tão óbvia frequentemente nos escapa) de que a imensa maioria dos autores de literatura da África lusófona que chegam até nossa terra brasilis são... brancos. 
O visual europeu na face que a literatura africana expõe ao mundo pode até pegar os desavisados de surpresa mas, pensando bem, olhando o principal produto cultural de exportação brasileiro - as novelas da Globo - fica fácil perceber que a cara do Brasil lá fora é muito pouco miscigenada. A menos é claro que falemos em futebol. 
Basta ver a grande sensação causada pela presença de uma atriz negra ocupando o posto de protagonista da novela do horário nobre. Com cabelos crespos e tudo, a PRIMEIRA negra a protagonizar as noites da maior produtora de novelas do mundo, põe no centro da cena (pela PRIMEIRA vez) a beleza sem olhos azuis e madeixas loiras que normalmente só pode ocupar a cozinha das mansões dos personagens brancos ou as senzalas das novelas de época.
Se olharmos para as telonas de Hollywood a situação não é muito diferente. Basta ver as exceções que confirmam a regra na terra do Presidente Negro: a belíssima Halle Berry, o action man Denzel Washington, o onipresente Will Smith. Que outros atores negros têm o seu nome em primeiro lugar na apresentação do elenco? Qual outro recebe cachê em pé de igualdade com os atores brancos? A cultura negra norte-americana de hoje está restrita ao hip-hop dançante de meninos que batem e meninas que apanham? Se a resposta a isso é, como suponho e acredito, negativa, então porque a exportação em massa dessa idéia?
Em tempo, dentro das atividades do Festival do Rio, hoje tem sessão especial no Odeon de Em Quadro - A História de Quatro Negros nas Telas, filme de Luiz Antonio Pilar que teve sua estréia no festival de Gramado e que conta um pouco da vida e da trajetória profissional de Ruth de Souza, Léa Garcia, Zezé Motta e Milton Gonçalves. 

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Sem palavras, hoje

(Foto: "Barquinhos de Rimbaud", Luciana Salles)

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Quando as artes se misturam

Se a música contasse uma história, qual seria? Como seria? 
Responder a essas perguntas é a proposta da Mojo Books. A idéia é a seguinte: você escolhe uma música, ou um disco inteiro, e conta uma história a partir dele. Não vale usar qualquer referência à letra da canção ou à biografia do cantor: a proposta é criar uma narrativa original, inspirada pelo que você sente ou pensa ou imagina quando ouve a obra escolhida. Pode ser de qualquer estilo (tanto o "álbum-musa" quanto o seu produto literário), qualquer tema, e você ainda pode "remixar" o conto de outro autor.
Se nem todos os textos representam adequadamente sua fonte musical em termos de qualidade ou popularidade, pouco importa. O que vale é o potencial criativo da idéia que, promovendo inusitados encontros entre música e literatura, acaba por provocar a audição de velhos álbuns com a (re)leitura em novos textos, convocando músicos, autores, ouvintes e leitores a um divertido jogo intertextual e sinestésico de transformação de álbuns em livros, criando música para ler e texto para o ouvido. 
Conheça mais sobre o trabalho em http://www.mojobooks.com.br/blog/.
Abaixo, uma provocação à parte: mudando o disco mas nem tanto, a minha própria variação sobre o mesmo tema numa brincadeira pessoal entre música e fotografia.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Uma terça-feira em Honduras, ou Cora e a política externa

Tudo começou assim:

@cronai: Honduras teria eleições em novembro. Graças à nossa política externa, pode ter guerra civil semana que vem.

about 19 hours ago from web

@cronai: Zelaya é, ele próprio, um golpista. O Brasil leva Honduras tão pouco a sério que nem embaixador tem lá. Agora criou um impasse sem saída.

about 18 hours ago from web
 

@cronai: É óbvio q não pode entregar Zelaya, o Canalha1, a Michelleti, o Canalha2. E qualquer violência contra a nossa embaixada é ataque ao Brasil.

about 18 hours ago from web


As declarações de Cora Ronai sobre o caso Honduras ontem no twitter geraram uma discussão que se prolongou por horas e que foi se propagando na velocidade #ZéMayerFacts. Qualquer pessoa minimamente informada sabe que o discurso da jornalista é pertinente; no entanto, uma enorme (e surpreendente) quantidade de seus seguidores no Twitter ficaram indignados com a declaração de que a disputa do governo hondurenho é entre dois golpistas e não entre o Bem e o Mal.



A colunista das quintas-feiras no Globo, acostumada a falar em defesa dos animais e das novas tecnologias, se viu no centro de um acalorado debate sobre política externa, democracia, (i)legalidade e liberdade de expressão.



Quando os debatedores afirmaram a eleição de Zelaya como ato democrático, a jornalista rebateu: "Foi; mas deu um golpe interno para continuar no poder; daí o outro golpe."
E lembrou:  "Hitler e Mussolini também foram" [eleitos democraticamente].



Questionada sobre o caso da reeleição de FHC (@leandroflds: @cronai No caso do FHC, foi aprovada pelo Congresso. Isso não é golpe. // É verdade. Foi armazém de secos e molhados.) e se os que querem um terceiro mandato para Lula não seriam também golpistas, a jornalista foi direta: "Com certeza".



Para quem ia chegando aos poucos ao debate, meio sem entender a polêmica, ela esclareceu:
"Respondendo a um monte de gente: Zelaya foi eleito para um mandato único. A constituição de Honduras proibe reeleição".

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"Resolveu então propor uma constituinte para mudar a constituição no quesito reeleição. O congresso foi contra. A Suprema Corte também".

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"Zelaya não aceitou nem a posição do Congresso, nem a da Suprema Corte. Resolveu que ia fazer o referndo no grito. Deu no que deu".

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"Não se mudam as regras do jogo durante o jogo. Para mim, isso é golpe. Depor Zelaya sem levá-lo a julgamento também foi golpe".

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E, por fim, quando atacada de sectarismo, comprometimento com a mídia, anarquista, etc., respondeu com a melhor defesa que os 140 caracteres do Twitter já carregaram: 
"Não sou responsável pelo jornalismo da Globo. Nem do Globo, aliás. Sou responsável pelas minhas opiniões, e só".

about 16 hours ago from TweetDeck 

Mais importante que a decisão brasileira de abrigar Zelaya na embaixada ou toda a discussão sobre o que é ou não permitido pela constituição de Honduras, a grande lição que podemos tirar de todo esse debate é que, de fato, a internet talvez seja o último reduto de verdadeira democracia, de verdadeira liberdade de expressão. E fica a reconfortante constatação de que mesmo na mídia, no Twitter, ou onde quer que seja, ainda há, nesse país, quem pense, reflita, discuta, e faça questão de se fazer ouvir, mesmo que muitas vezes cercada pela voz da ignorância.  E, o melhor de tudo: sem perder o bom humor.
 


(Foto: "Hora do Almoço" de Mônica Fagundes, em singelo passeio pelo Zoológico de Buenos Aires)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Um festival de cinema online

Enquanto escrevia minha tese de doutorado, houve um momento em que precisava rever o Encouraçado Potemkin. Estava no último capítulo, analisando um poema que dialogava com o filme. Era um domingo de manhã. Rio de Janeiro, junho de 2009. Onde diabos eu iria arrumar uma cópia de um filme de Eisenstein?
Foi então que eu descobri o que viria a ser um de meus blogs favoritos: o Cinema Cultura
O blog de Tales Santana é uma espécie de imenso e eterno festival de cinema, gratuito, sem filas e sem endereço físico. Em seu acervo se encontra de tudo, do mais cult e clássico, ao mais simples e pop. Dos filmes experimentais de Andy Warhol à Branca de Neve de Walt Disney, passando por uma boa quantidade de filmes europeus, asiáticos e latinoamericanos. Merecem especial destaque as sessões de Animação e a Expressionista/Experimental, mas cabe ressaltar que, ao contrário do que afirma o pórtico do blog ("download de filmes cult e antigos"), também há em suas categorias espaço para o drama, o romance e a comédia não tão cult e nem tão antiga, todos muito bem organizados e sempre acompanhados de comentários inteligentes.
Para quem gosta de filmes, de qualquer estilo, fica a sugestão. Para quem curte as coisas estranhas desse mundo, fica a indicação de um curta recentemente adicionado ao blog:  A Vereadora Antropófaga, de Pedro Almodóvar (2009). Vale a pena conferir. 

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Bizarrices do Festival

A melhor coisa do Festival do Rio é, naturalmente, ter a oportunidade de conferir títulos que não chegarão jamais às grandes telas do circuito comercial. Filmes de arte, obscuros, polêmicos, independentes, europeus, asiáticos, latinoamericanos - vale tudo e tudo vale a pena, especialmente se a alma não é pequena e o gosto por bizarrices é grande. Seguem abaixo alguns exemplos do que vai estar rolando nas salas de cinema da cidade nos próximos dias, incluindo vampiros potencialmente mais interessantes que os do pop/comercial Crepúsculo, diretamente do blog do Festival:

Eu matei a minha mãe (J’ai tué ma mère)

php1JKdoyAM de Xavier Dolan com Anne Dorval, Xavier Dolan, Suzanne Clément, François Arnaud Canadá, / 100 minutos / 2009 EXPECTATIVA

Hubert tem dezessete anos e não ama sua mãe. Além de só ter olhos para o gosto kitsch, as roupas bregas e pequenos detalhes como a forma que ela come, ele a contempla com desprezo. Os mecanismos de manipulação e a culpabilização empregados por ela também não lhe passam desapercebidos e Hubert se vê progressivamente tomado por uma relação de amor e ódio fora do seu controle. Confuso, ele vaga por uma adolescência ao mesmo tempo marginal e típica, repleta de descobertas artísticas, experiências ilícitas, amizades e sexo.

Exibido na Quinzena dos Realizadores em Cannes 2009.

Xavier Dolan nasceu em Montreal em 1989. Iniciou a carreira aos seis anos de idade, ao figurar numa série de propagandas para a televisão. Desde então trabalha como ator de cinema e televisão,tendo participado de filmes como La forteresse suspendue (2001), de Roger Cantin, e Mártires (2008), de Pascal Laugier.

Este é seu primeiro filme como diretor, produtor, roteirista e ator, tendo escrito o roteiro aos 17 anos. Mas não matou a mãe.

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MATADORES DE VAMPIRAS LÉSBICAS

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Lesbian Vampire Killers de Phil Claydon com James Corden, Matthew Horne, Paul McGann Reino unido/ 88 minutos / 2009 Midnight

Os amigos Fletcher e Jimmy, dois azarados, decidem passar um feriado no campo para fugir de seus problemas. Chegando a um remoto vilarejo, são conduzidos pelo povo local a um lugar afastado, para servirem de sacrifício humano. A cidade sofre de uma maldição lançada por Carmilla, a Rainha Vampira Lésbica, que acomete as belas meninas de 18 anos que passam por ali. Ao cair da noite, as beldades revelam seu gosto por sangue, e pela carne uma das outras. Para salvar suas vidas, os dois amigos terão que superar seus medos e suas fantasias para se tornarem matadores de vampiras.

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Nasceu em 1976, na Inglaterra. Formou-se na Escola Internacional de Cinema do País de Gales. Seu curta de formatura, Skipping Without Rope (1999), foi exibido no Festival de Curtas Britânicos da BBC e no Festival de Edimburgo. Aos 24 anos, dirigiu seu primeiro longa-metragem, Alone, indicado ao British Independent Film Awards de 2001. Em seguida, realizou o curta-metragem Championship (2002). Este é seu segundo longa.

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SEDE DE SANGUE  (Bak-Jwi – Thirst)

thirstbannedposterb1 de Park Chan-wook com Song Kang-ho, Kim Ok-vin, Kim Hae-sook, Shin Ha-kyun Coréia do sul, 133, 2009 Midnight

Sang-hyun, padre querido na cidade onde vive, se oferece como voluntário para os testes de uma vacina contra um novo vírus letal. Infectado acidentalmente com o vírus, seu corpo desfalece. No entanto, uma transfusão de sangue de última hora o traz milagrosamente de volta à vida. Transformado em vampiro, ele passa a ter um grupo de devotos seguidores que acreditam que ele possui o dom da cura. O padre, no entanto, precisa lidar com outras preocupações: o desejo incessante por sangue e a paixão pela mulher de um amigo de infância. Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 2009. Nasceu em 1963, na Coréia do Sul. Estudou filosofia na Universidade Sogang, onde fundou um cineclube e dedicou-se à teoria de cinema. Trabalhou como assistente do diretor Kwak Jae-Yong até fazer seu primeiro longa-metragem, The Moon is the Sun’s Dream, em 1992. Entre seus filmes, destaca-se a “trilogia da vingança”, formada por Mr. Vingança (2002), Oldboy (2003), Grande Prêmio do Júri em Cannes 2004, e Lady Vingança (2005).

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prog no www.festivaldorio.com.br

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domingo, 20 de setembro de 2009

Domingo

Sempre odiei domingos. Dia morto, aborrecido.
Embora não haja dias mortos no Rio de Janeiro. Embora haja uma exibição de snowboard na praia de Botafogo, pessoas pedalando de Niterói ao Rio (mas domingo não é sempre um "dia sem carro"?), pessoas caminhando do posto 6 ao Leme pela liberdade religiosa. Embora haja muitos times jogando futebol. Embora haja muitos filmes em cartaz, muitos bares, restaurantes, último dia da Bienal (aquele evento estranho cheio de adolescentes gritando e crianças correndo e camisetas com frases de Maitê Proença e da filha de Cecília Meirelles à venda). 
Nada na televisão, jornal de hoje lido (ou folheado, dá no mesmo), correspondência em dia. O mundo lá fora e uma preguiiiiiiiiiça entre nós... Preguiça de sair, de andar, de ler, de pensar na semana, de fazer projetos. Preguiça de existir.
Melhor deixar para amanhã. "Amanhã recomeço".
Sempre odiei domingos. Dia morto, aborrecido.
P.S.: A foto aí de cima foi tirada numa quinta-feira. Fim de tarde. Voltando de Paquetá.

sábado, 19 de setembro de 2009

Primavera nas telas

Setembro é um mês incrível para os adeptos de um tipo peculiar de leitura: a de legendas. 
O Festival do Rio já está pronto para começar e os passaportes vendidos pela internet esgotaram numa velocidade assustadora. O guia dos filmes, sessões e salas já está disponível online (veja o link no meu twitter, ali na lateral do blog). 
Para quem prefere uma telinha menor e mais barata, a TV está em alta... nos Estados Unidos. 
Começam as novas temporadas: Dexter já voltou, agora com mulher e filhos, para provar que não há sociopata pior que um bebê chorão. Gossip Girl is here, com um começo meio fraco, primeiro capítulo sem graaaaaça... 
Algumas séries novas lutam por seu espaço, como a estranha e HILÁRIA Glee e The Beautiful Life, a nova de Mischa Barton (a Marisa Cooper de O.C., recém saída de internação psiquiátrica. tsc, tsc.). O piloto já está disponível nos sites de séries para download; será que vale a pena dar uma chance?
Infelizmente, o ciclo da vida e das temporadas de TV prega que para que venha o novo, algo tem de ir embora... Assim, chegam ao fim a vampiresca True Blood (quem terá levado Bill?) que se despede mais bizarra que nunca, a inusitada Hung (a do professor / "garoto" de programa), a ótima Weeds (apesar da temporada meio fraca) e Make it or Brake it (série sobre o mundo da ginástica olímpica, sem previsão de estréia no Brasil e sem jeito de que volta para uma segunda temporada). 
 
Aguardando ansiosamente o retorno de How I Met your Mother e The Big Bang Theory, vamos nos despedindo aos poucos do melhor detetive neurótico de todos os tempos: na contramão dos inícios e términos, vai pelo meio a 8a. e última temporada de Monk.
A Fox já anuncia a estréia brasileira da excelente Lie to me. E no clima de tantas novidades, a Sony anuncia as suas: o remake de Melrose Place (fracasso na estréia norte-americana, of course),  e... Felicity. Sério. Todos os dias, às 17:00, a partir de semana que vem. Pode? Ninguém merece!
Deus salve a Internet!

De volta pra casa

Desde que aprendi a ler, os livros são a minha casa. De onde eu fujo de vez em quando, mas para onde volto sempre. E, desde que me entendo como leitora, abrigo em mim uma escritora. Lamentavelmente, esse gosto pela leitura, pela escrita e por tudo o que um livro representa acabou me levando ao lugar onde os escritores morrem: a faculdade de Letras. 
Pouco a pouco a vida acadêmica vai sufocando e massacrando os mais sinceros ideais de expressão artística e escrita livre, libertária. Fiquei lá muito mais tempo do que deveria: graduação, mestrado, doutorado... Agora tento reconstruir minha relação com os livros e as palavras, num esforço de real aprendizado, resgate da escritora que nasci e que fui abafando aos poucos.
(Re)Aprender a escrever. Será possível?
(Foto: "Ponto de Partida", Luciana Salles)