quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Uma terça-feira em Honduras, ou Cora e a política externa

Tudo começou assim:

@cronai: Honduras teria eleições em novembro. Graças à nossa política externa, pode ter guerra civil semana que vem.

about 19 hours ago from web

@cronai: Zelaya é, ele próprio, um golpista. O Brasil leva Honduras tão pouco a sério que nem embaixador tem lá. Agora criou um impasse sem saída.

about 18 hours ago from web
 

@cronai: É óbvio q não pode entregar Zelaya, o Canalha1, a Michelleti, o Canalha2. E qualquer violência contra a nossa embaixada é ataque ao Brasil.

about 18 hours ago from web


As declarações de Cora Ronai sobre o caso Honduras ontem no twitter geraram uma discussão que se prolongou por horas e que foi se propagando na velocidade #ZéMayerFacts. Qualquer pessoa minimamente informada sabe que o discurso da jornalista é pertinente; no entanto, uma enorme (e surpreendente) quantidade de seus seguidores no Twitter ficaram indignados com a declaração de que a disputa do governo hondurenho é entre dois golpistas e não entre o Bem e o Mal.



A colunista das quintas-feiras no Globo, acostumada a falar em defesa dos animais e das novas tecnologias, se viu no centro de um acalorado debate sobre política externa, democracia, (i)legalidade e liberdade de expressão.



Quando os debatedores afirmaram a eleição de Zelaya como ato democrático, a jornalista rebateu: "Foi; mas deu um golpe interno para continuar no poder; daí o outro golpe."
E lembrou:  "Hitler e Mussolini também foram" [eleitos democraticamente].



Questionada sobre o caso da reeleição de FHC (@leandroflds: @cronai No caso do FHC, foi aprovada pelo Congresso. Isso não é golpe. // É verdade. Foi armazém de secos e molhados.) e se os que querem um terceiro mandato para Lula não seriam também golpistas, a jornalista foi direta: "Com certeza".



Para quem ia chegando aos poucos ao debate, meio sem entender a polêmica, ela esclareceu:
"Respondendo a um monte de gente: Zelaya foi eleito para um mandato único. A constituição de Honduras proibe reeleição".

about 16 hours ago from TweetDeck 


"Resolveu então propor uma constituinte para mudar a constituição no quesito reeleição. O congresso foi contra. A Suprema Corte também".

about 16 hours ago from TweetDeck


"Zelaya não aceitou nem a posição do Congresso, nem a da Suprema Corte. Resolveu que ia fazer o referndo no grito. Deu no que deu".

about 16 hours ago from TweetDeck 

"Não se mudam as regras do jogo durante o jogo. Para mim, isso é golpe. Depor Zelaya sem levá-lo a julgamento também foi golpe".

about 16 hours ago from TweetDeck


E, por fim, quando atacada de sectarismo, comprometimento com a mídia, anarquista, etc., respondeu com a melhor defesa que os 140 caracteres do Twitter já carregaram: 
"Não sou responsável pelo jornalismo da Globo. Nem do Globo, aliás. Sou responsável pelas minhas opiniões, e só".

about 16 hours ago from TweetDeck 

Mais importante que a decisão brasileira de abrigar Zelaya na embaixada ou toda a discussão sobre o que é ou não permitido pela constituição de Honduras, a grande lição que podemos tirar de todo esse debate é que, de fato, a internet talvez seja o último reduto de verdadeira democracia, de verdadeira liberdade de expressão. E fica a reconfortante constatação de que mesmo na mídia, no Twitter, ou onde quer que seja, ainda há, nesse país, quem pense, reflita, discuta, e faça questão de se fazer ouvir, mesmo que muitas vezes cercada pela voz da ignorância.  E, o melhor de tudo: sem perder o bom humor.
 


(Foto: "Hora do Almoço" de Mônica Fagundes, em singelo passeio pelo Zoológico de Buenos Aires)

Um comentário:

  1. "hora do almoço", que poético...

    mas, ó: posso até concordar que o zelaya tentou começar aquele processo de golpe que está na moda em nosso continente. só petista babaca vai dizer que não. mas a instalação de um referendo é muito menos grave do que ser deposto pelas forças armadas. não dá pra comparar, sem chance. da mesma forma, fazer relação com hitler e mussolini é forçação (porra, é assim que se escreve? nunca escrevi uma palavra com duas cedilhas na minha vida!) de barra.

    ResponderExcluir