quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Para os fotógrafos de plantão, parte 2: o mito da respiração

Muitas vezes ao longo da vida ouvi as pessoas dizerem que o truque para não tirar fotos tremidas era prender a respiração no momento do clique. Você enche os pulmões, segura o ar lá dentro e desce o dedo no botão. ENORME BOBAGEM.



Sem respirar, o corpo se vê privado de oxigênio. Como um claustrofóbico que antecipa a sensação de que a qualquer momento o ar do elevador vai acabar, o organismo se põe em estado de alerta. Entende, naturalmente, que algo deve ser feito.



Entra em cena o responsável pela oxigenação das células: o sangue. Tentando suprir a falta antes que os órgãos tenham qualquer indício de que algo vai mal, o sangue corre para distribuir o O2 que resta em suas reservas, como aeromoça aflita distribuindo máscaras aos passageiros de um avião em queda. Aparentemente tranquila e sorridente mas acelerada, a aeromoça sanguínea provoca uma grande comoção entre os passageiros que a percebem visivelmente alterada em suas funções. Desconfiam, acertadamente, que seu nervosismo de sangue e aeromoça é um reflexo do nervosismo de quem realmente importa - o piloto, o coração.



Na corrida pelo abastecimento das células, o sangue é pressionado por sua bomba. Quanto maior a necessidade de correr, mais a bomba trabalha. Daí que, quando você prende a respiração, o coração acelera. As batidas se tornam mais rápidas e mais fortes. E você treme.



Qual seria então o momento do clique?



Quando você está contando uma história, uma daquelas boas, engraçadas e cheias de reviravoltas, ou passagens que te provocam raiva, exasperação, você fala, fala, fala,... até que uma pausa se impõe. E você respira.



Um breve momento antecede essa pausa para tomar fôlego. Um instante apenas entre a última sílaba do seu discurso e a primeira inspiração para o próximo parágrafo; o instante de inércia da respiração. Nada se move. Corpo perfeitamente relaxado. Hora de clicar.



As imagens lá em cima, essas sim, mercem que se prenda a respiração. São do projeto Ashes and Snow, um trabalho que já vem sendo realizado há mais de 12 anos e que se dedica a explorar a convivência entre homem e natureza em seu estado mais puro. Um show de imagens, um site que vale a pena ser visitado, uma exposição itinerante que já ocupa o posto de exposição individual mais visitada da história. Mas, principalmente para os fotógrafos de plantão, um bom exemplo do que pode ser feito quando se tem cuidado, sensibilidade e técnica.



Detalhe importantíssimo: não há qualquer trabalho digital nas imagens. Todas foram realizadas em FILME!!! Câmera ANALÓGICA!!! 35mm!!! Elas foram apenas escaneadas para o site. Sem Photoshop. Só olhar, clique e revelação bem feita, em papel artesanal.

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